Por Najla Passos – de Carta Maior
A principal polêmica da matéria continua sendo o percentual
do PIB que deverá ser aplicado na educação. Os movimentos sociais prometem
endurecer a campanha pelos 10%, mas o relator da matéria, deputado Angelo
Vanhoni (PT-PR) antecipa que não conseguirá avançar para além dos 7,5% já
autorizados pela equipe econômica do governo. Segundo ele, a meta da Casa é
aprovar a matéria até abril, para que possa ser enviada ao Senado antes que as
duas casas paralisem suas atividades por causa das eleições municipais.
Sob pressão dos movimentos sociais brasileiros, que prometem
endurecer a campanha pela destinação de 10% do Produto Interno Bruto (PIB) para
a Educação, a comissão especial da Câmara que discute o Plano Nacional de
Educação (PNE), o documento com as metas para o setor nos próximos dez anos, se
reúne nesta terça (28), a partir de 14 horas, para definir o cronograma de
trabalhos para o período.
O relator da matéria, deputado Angelo Vanhoni (PT-PR), ainda
não conseguiu concluir a nova versão do seu substitutivo à proposta do governo
que, ao ser apresentado, em dezembro do ano passado, gerou críticas dos mais
diferentes setores da sociedade e recebeu mais de 450 novas propostas de
emendas. “Eu estive trabalhando no texto junto com a assessoria da Câmara,
antes do carnaval, e estimo que em 15 dias a nova proposta de substitutivo
esteja pronta para ser votada”, afirma.
Segundo ele, a meta da Casa é aprovar a matéria até abril,
para que possa ser enviada ao Senado antes que as duas casas paralisem suas
atividades por causa das eleições municipais. “Como a matéria é polêmica, minha
estimativa é que sofra alterações no Senado e volte à Câmara, para nova
discussão. Se tudo correr como previsto, conseguiremos aprová-la até o final deste
ano”, acrescenta Vanhoni.
O projeto do governo foi enviado à Câmara em dezembro de
2010. A expectativa dos movimentos sociais era que fosse aprovado ainda no ano
passado, já que fixa as metas para o período 2011-2020. Entretanto, o projeto
não saiu sequer do âmbito da comissão especial.
O principal ponto de polêmica ainda é o percentual do PIB
que deverá ser destinado à Educação. Na proposta original, o governo propunha
que chegasse a 7% do PIB até 2020. No seu substitutivo, o relator conseguiu
ampliar esse percentual para 7,5% dos investimentos diretos, após muita
negociação com a equipe econômica do governo.
Mas os movimentos sociais brasileiros insistem em 10%, a meta
definida pela sociedade civil desde a elaboração do primeiro PNE após a
promulgação da Constituição de 1988, vetada pelo ex-presidente Fernando
Henrique Cardoso. Hoje, o governo investe 5% das riquezas produzidas no país em
Educação.
Vanhoni já antecipa que o percentual não será revisto no
novo substitutivo. Ele afirma estar convicto de que a ampliação para 7,5% do
PIB será suficiente para cumprir as 20 metas estipuladas no plano. “A discussão
em torno apenas de percentual do PIB é muito abstrata. É preciso ver como nós
propomos aplicar esses 7,5%”, alerta ele.
A proposta da sociedade civil organizada, chancelada pela
Conferência Nacional de Educação de 2010, defende o investimento mínimo de 10%
do PIB com base em estudos de demanda e necessidade de melhorias na qualidade
do ensino ofertado. No caso da educação infantil, por exemplo, prevê oferta de
creche pública para todas as mais de 11 milhões de crianças brasileiras de 0 a
3 anos.
Hoje, o governo atende apenas 1,8 milhões de crianças nesta
faixa etária e propõe ampliar a oferta de creche, em 10 anos, para 50% do
total, ou seja, 6 milhões de crianças. “Há famílias que preferem cuidar dos
seus filhos em casa e colocá-los em creches particulares. Não temos uma noção
exata da demanda e, por isso, acreditamos que atender 50% das crianças já será
um grande salto”, justifica o deputado.
As diferenças entre os projetos da sociedade civil e o
substitutivo do relator também estão nos valores destinados ao cumprimento das
metas. No caso das crianças de 0 a 3 anos, os movimentos defendem a aplicação
de R$ 6,8 mil anuais por criança. O substitutivo fixa R$ 3,5 mil. “Hoje, o
governo emprega R$ 2,2 mil, o que é pouco para atender a demanda necessária.
Mas, com base nas consultas que fizemos, acreditamos que R$ 3,5 mil é
suficiente”.
Uma segunda diferença gritante está justamente na outra
ponta. Hoje, o Brasil possui menos de 7 milhões de jovens no ensino superior,
70% deles em instituições privadas. Propõe, em dez anos, aumentar para 12
milhões de jovens, 40% em universidades públicas presenciais. Os movimentos
querem 70% dos jovens em universidades públicas, e todos eles cursando ensino
presencial.
“O custo anual de um aluno em ensino presencial é de R$ 15
mil, enquanto no ensino à distância é de R$ 3 mil. A proposta do governo é
criar 100 mil vagas públicas por ano. Portanto, com os 7,5% do PIB, o desafio
de saldar a dívida histórica que temos com a juventude brasileira já irá
avançar muito”, acrescenta.
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